Nas águas turvas do meu viver,
Jorram cascatas melancólicas...
Que sob dormência e quietude...
São levadas mornas pelas bordas!
Na trepidação oscilante das ondas,
C'o corpo exausto de tantas perdas,
Esgueiro-me ao lado de um rochedo,
A represar velhas águas de chuva!
Desolação e frescor que calcina
Num desalento que não se finda;
O peso dos anos e os infortúnios,
A desaguar na mesma foz e sina!
Dói ver tantas águas se turvarem,
Nos abismos e ermos profundos...
Olhos d’água que não se estancam...
Arremessados, incautos, sem destino!
Ao enfrentar incertezas sombrias...
Que vão d’encontro aos rochedos,
Lamaçal lúgubre em via-crúcis...
Aterrando-me num claustro insano!
Vão longos dias e noites peregrinas...
Eu, perdido e cativo em veios escuros,
A lançar um grito estertor de horror,
Por valas e penhascos sob maldição!
Viver condenado na tristura e solidão,
Dói sentir-me assim tão desgraçado,
Perdi sonhos e anelos na correnteza,
Condenado...errante... sob ruínas!
Resvalando urdiduras do passado,
Num dilúvio cruel em altas vagas,
Dum viver assaz, atribulado...
Cinéreos traços, da via-lactea errante...
Oxalá! Que um deus m'scute nas esferas,
Nesta hora de agruras e degredos...
Pois, há milênios sofro ensandecido...
Ao cruzar esses mares de infortúnios!
Que essas águas me sejam leves...
Ao abrigar-me nesse manto infindo...
Anseio a vida; não esse báratro noturno.
Reserva-me ó deus dos desgraçados!...
Um braço de mar ou lago divino...
P'ra repousar minh'lma, sequiosa...
Sob tristura das coisas deste mundo,
Quiçá, ver a flux no final do túnel!
Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 29/11/2011
Alterado em 30/11/2011