Elzana Mattos

Gotas Acesas -  que jorram infinitamente...do meu ser!

Textos

                   Passei no... Ves ti bula ar...

Hoje, em minha casa, emminha rua e em meu pequenino universo é dia de festa! Vou brindar como todo mundo!  vou comemorar: sair correndo, pular, dançar, gritar, e é claro, me molhar de chuva! e deixar os meus pés delicados alçarem voos inusitados, sem pressa de ser feliz! meu sorriso era maior; a vida estava maior... e o meu sonho, ah! este.... estava indubitavelmente, radioso e gigantesco! Pois, chegara à minha vez! Voei mais alto e rasante...e fiquei como todo mundo que sonha... e que, também realiza; com um gosto bom de vitória!

Acordei especialmente naquela manhã - bem cedo, ora, isso é-me muito casual! sempre acordava com as galinhas do quintal; elas, dormiam cedo e acordavam muito cedo para a vida (imitemos as galinhas ou o Galo, é claro). Ele, com sua voz histrionica, bem estridente e contínua que acorda toda à vizinhança sem medo! Pois, muito bem! hoje, sou eu... quem cantará de Galo... no meu Terreiro!...

Estudei três intermináveis anos a fio... para chegar a esse fim; estudei muitas horas, dias, meses e longos anos. Afinal, ficava muitas vezes, com inveja, digo, invejinha branca - quando alguém da minha rua... passava no tão esperado e temido "vestibular"; ele sim, era um "bicho papão"! mas, não me detinha, ou melhor, nada! nem mesmo o cansaço ou afazeres, enem, concorrência, número de vagas, e por aí vai! cresci aprendendo... que estudar um pouco mais... é muito importante para o futuro, é claro! (isso quem dizia era à minha doce e Santa Mãezinha, todo santo dia!). Porém, eu na minha curiosidade e vivacidade juvenil, só obedecia.

A espera era bem maior do que supunha: todos os dias ligava a televisão, para ver se o resultado havia sido divulgado. Mas era em vão...Então distraía-me lendo qualquer coisa que estivesse à 
mão - até Bula de remédio servia, essa conhecia muito bem! sempre tive uma saúde um pouco delicada. Mas, quem não a tem hoje em dia?!  (talvez, seja culpa desse consumismo exacerbado). Come-se de tudo... e um pouco mais! Faz parte desse sistema capitalista, não é mesmo?!
Todavia, não deixava a peteca cair...mesmo que ela, a peteca, pensasse em cair de repente. Eu levantava-me e em seguida... saia pronta e quase inteira com minha peteca tão surrada nas mãos e nos ares, pois, o Sr. Tempo... por vezes,  havia-me castigado um bocadinho! só um bocadinho, viu!

Revi alguns estudos e esquemas de estudos anteriores; sorri para alguns, e intriguei-me com outros; nem tudo havia assimilado muito bem! só o bastante para sonhar com o meu nome naquela lista gigante e bem afunilada; no fundo do fundo do meu peito...sabia que minha hora estava chegando.
Assim, pequei o meu celular...e liguei para dois colegas de turma do cursinho. O primeiro foi Gil, um rapaz bem humorado e inteligente. Ele era O Cara o tal da Física! Nossa...sabia tudo... o danado! Era de dar inveja! Mas, pros lados das Letras uma negação! Nem tudo é perfeito. Ele sempre recorria à mim é claro! Isso era o máximo do máximo do frenesi! Uai...

Já a Netinha dos Prazeres, essa era uma escultura grega; belíssima de se olhar...e linda de viver (como dizia a Hebe);  e os rapazes ficavam de olhos compridos... quando ela passava! Quanto a mim, nossa! eles me olhavam como se eu fosse de outro planeta e que chegara a terra... um pouco atrasada (adiantada). Não ligava pro bla bla blá... ninguém precisa agradar ninguém, meu objetivo no cursinho era exatamente passar no vestibular! o resto viria de acréscimo ou merecimento. Afinal, tinha muito tempo ainda... pela frente, e como tal, não faria feio... a senhor ninguém.

Ao acordar o espelho era o meu primeiro divisor: olhava-o suavemente... e pegava um papel toalha absorvente para limpar a pele cansada, cheias de olheiras... de tanto estudar e perder noites! limpava-a delicadamente para repousar um trisco de maquiagem para disfarçar e, realçar os meu belos e expressivos olhos! em seguida escolhia uma calça jeans bem confortável e uma camisete de algodão bem colorida! eu mais do que ninguém queria espelhar alegria e primaveras, através das cores vibrantes e das minhas curvas um pouco alargadas, sem deixar de lado à minha irreverência costumeira.

Então, saia do meu quarto toda feliz e obstinada, afinal, o dia estava prometendo! em seguida, dirigia-me ao portão de casa, e lá estavam todos eles, reunidos à beira da calçada - olhava-os discretamente, eram sempre as mesmas pessoas; os mesmos varredores de rua, eles também, acordavam com as galinhas para a labuta! mas acredito que eles esqueceram de sonhar!...ou ao menos, talvez, não tiveram tempo ou oportunidades para fazê-lo acontecer! pois bem, devo pensar em outra história: à minha que pulsa freneticamente dentro dos meus poros entreabertos... devo pulsar, suar... e correr atrás do trio elétrico que acabou de passar pela avenida do sabão, ah! avenida tão escorregadia e fremente...dentro da minha memória acesa e bem precisa; pois, o tempo não passou... e quando passa descortina outros tantos mistérios ainda desveladores (tudo podia acontecer de repente como um flashback.

Naquela manhã tudo me era curiosamente delicioso e bem chegado; murmurava aos ventos que deslizavam por entre as árvores e pomares que ficavam bem no alto das montanhas e o Sol banhava eletrizante sobre as ondas escarpadas que desciam e iam de um lado para o outro a fazer festa salpicante... como um onda alta de areia diamantina que reluzia ao baile frenético que se via sobre as encostas dos rochedos e das bordas das praias...
Ah! meu barquinho indelevelmente desbravador seguia sem rumo e sem bússola, apenas se ia...valente... pelos oceanos da vida! Queria tudo e um pouco mais! mesmo que me custasse, por vezes, à minha pele! Ora pois, era tudo o que mais queria: arriscar-me e jogar-me nas veredas do conhecimento, mesmo estando mascarada. Porém, precisarei dum caleidoscópio afinal, que reside em minha memória aguçada e curiosamente incessante (a desejar conhecer tudo), para enxergar muito mais além do que está dentro de mim, e, fora do meu sistema enganador (refiro-me em relação as vivências e experiências que tento reunir de uma só vez) no arcabouço duma sobrevivência quase onírica e destemperada. Seguirei os meus instintos e desejos ao conquistar um lugarzinho nesse cenário indubitavelmente acolhedor.

Por fim, reli o jornal e, mais atenta vi, em uma coluna à direita (uma notinha tímida com alguns nomes), de inicio não dei importância para o fato, mas, para minha grata surpresa: enxerguei o meu nome em destaque. O que seria meu Deus, uma lista de aprovados no vestibular, ou era uma nota apenas! de pronto não quis ler, mas a curiosidade falou mias alto! vou ler de vez, seja o que for estarei preparada. (não seria a primeira vez que me defrontava como o desconhecido e inusitadamente sem propósito).

Dizia assim: quanto vale o peso dos anos e/ou sonho?! 

Fiquei mais intrigada com a manchete: o que queria dizer nas entrelinhas.

UFA! Que chato... Não entendi. Será que desaprendi o teor da nossa Língua Mãe?!

Li mais um pouco e, compreendi: falava de uma tal jovenzinha de alguns anos a mais... que teve a audácia de se inscrever no Vestibular.

Ora, por que o espanto?! Tinha um sonho também! E, por que não realizá-lo, ainda que lá fora estivesse chovendo medo e/ou dissabores! Fiquei embasbacada e estupefata, àquela jovenzinha, sou eu, meu Deus! Não acreditei no que estava lendo...liguei para Gil e disse: por favor colega, dê uma olhadinha no Jornal da Cidade, abra na página 13 e veja na coluna 3 à direita - à notinha como o meu nome.

Depois me ligue.

E, para minha surpresa, Gil me liga em seguida:

_ Caramba! você foi aprovada: 1ª Lugar no Vestibular 2013!

_ E é mesmo Gil. Não estou acreditando é demais para mim! Consegui o feito. Nossa que bom!
Vou desligar agora Gil, espero por você mais tarde lá em casa. Combinado!

Por alguns instantes fiquei em estado de choque e êxtase, não era qualquer coisa passar no vestibular assim. Entrei em pânico: e agora como seria?! o que teria que conhecer e vivenciar. Seria um novo palco, novas cenas e novos atores contracenando uma história quase surreal. Eu sou surreal!

Literalmente surreal! Não tinha jeito...que sai na chuva é para se molhar!

Inundada de expectativas e ansiedade...voltei a minha penteadeira de espelhos, e, me vi por inteira; tirei minhas vestes e sorri: estava diante de uma menina florbela - florada de luz... que acordada de silêncios e aroc-íris se vestia des (nua), completa de lua, sol, e esperança ao abraçar com unhas alongadas e coloridas, e com dentes afiados à própria sorte na contradança do relógio do tempo, que não para - apenas, pausadamente retine e freme febril ao compassar sensível do meu coraçãozinho de muitas primaveras... de conquistas, esquisitices, curiosidades e devotamento a vida que me recebe de volta com olhos fechados!

Agora, tudo daqui para frente... terá uma nova ótica e um novo Tom - o tom da cor irisdiscentes dos meus pensamentos, que ora converto-os em sonho realizado para cutucar e tatuar na sua mente: por que não eu... A_HA!?...
  

                            Manchete do Jornal da Cidade:  
                      Quanto Vale: o peso dos anos e/ou sonho?!
     


                                                   Mulher Idosa:
                                         Dona Maria dos Prazeres
                                         de 85 anos, aprovada em 1º Lugar
                                                  No Vestibular 2013.

 

Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 20/02/2013
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