Pedras no meu caminho!
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Ontem eu vi uma pedra
Em desalinho...
Ontem eu vi uma pedra
Esculpida nas entranhas
Da terra infinda.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Onde teci lembranças...
E ânsias de partir.
Ontem eu vi uma pedra
No ceu aberto...
Na pedreira do infinito...
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Pedras, infinquei:
No meu coração,
Devagarzinho...
Ontem eu vi uma pedra
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
A perscrutar lembranças...
E porções de mim.
Ontem eu vi uma pedra
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
No escavar exposto do meu corpo,
Encontrei mais uma pedra...no caminho...
Nos mares incontidos... que descortinam,
Abismos profundos... no oco da pedra.
No inesperado que me viola,
Que me aprisiona,
Em mosntruosas rimas...
Que gritam... desesperadas...
Por pena... de mim.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Então, no destrinchar...
De penhascos e grutas,
Percebi o esforço inefável,
Na eterna procura de sentir e,
Ser amado em demasia...
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Na pedreira me vi, solitário e bruto:
De força e vontade para continuar te descobrindo....
Onde me sufoquei... na poeira leve... que pairava,
Tomava de ímpeto... todo o meu ser
Envolto de cinzas e medos.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Ah, como sofro na desdita!
Que me dilacera em fagulhas...
Ah, como posso continuar assim,
Na escuridão de almas a peregrinar!
Ah, como ser eu mesmo e partir:
Desse labirinto que me prende.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Pois, por ser pedra,
Não posso alçar vôo...
Vivo na clausura dos anos...
À mercê ,desmorono,
Por entre lápides e terra fria,
Que anunciam o meu breve fim...
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
No sulco da terra ressequida...
Dentro de mim.
A tamborilar, gotas e sons do passado,
Na pedra bruta que desenhei...
Rachaduras e cicatrizes sem fim.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Inaudível de sensações ignotas,
No rugir da boca da palavra presa:
Pedra - servir - sentir?
Rituais da própria linguagem de existir.
Sempre como pedra...no caminho:
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Ajuntar, separar, infincar, soerguer;
No manto leve da identidade de se descobrir...
Pedra bruta, ou pedra lapidada,
Escolha total do déjà vu...
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Como pedra - que tudo prescinde e comporta,
No exaltar da fortaleza que construí... sob muralhas sem fim.
Muralhas no infinito... a me possuir,
E proteger da chuva de almas... errantes,
Que insistem me possuir.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
No emaranhado de pedrinha cintilantes e furtivas,
Amarfanho sutilezas... das pedras pré-históricas,
Intocavéis, em desvelo.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Ah, pedra do meu caminho...
A experienciar meu grito,
E expandir meus mitos...
De criatura sub humana!
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Na poesia derradeira da pedra,
Que intensifica e ratifica...
Ritmo do pó volúvel, da minha cara metade,
Que se esconde em máscaras de pedras,
Sorrateiramente...
Na estrada, no caminho... da vida...
Exaurida de ser inanimado a rolar...
Leve - breve - no expirar da vida sorfrida.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
E se confunde com a própria linguagem do tempo,
Entrecortado de lembranças e mistérios.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Por ser pedra, carcomida, doída e participar, indelével,
Desse momento edificador de agonias e por-de-sóis, insossos.
Endoidecidos de furor na luta renhida de seres... inertes, intrépidos.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
No traduzir da linguagem - pedra
No mundo a construir - edificar
No corpo a pedra significa - definir instrumentos...
No esculpir, para o bem ou para o mal.
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
Na existência... a pedra - é o dever,
De executar a construção...da vida.
No veio da terra...
Da casa, do casebre, do palácio...
Ontem eu vi uma pedra
Pedra no meu caminho...
A pedra agora, é a própria escolha...
De si mesmo... em direção ao infinito!
Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 29/03/2011
Alterado em 08/07/2011