Hoje o sol castigado não refletia
Seus belos raios sobre as lagoas
Havia uma imensa orla lodosa
Orquestrando o prelúdio dos sapinhos.
Ao longe se via uma casinha branca
Com duas tiranas românticas,
E, lá fora, erguiam suas palmas,
Uma gigantesca palmeira em leque...
Que se abria abraçando os montes...
E, da janela, duas moças, s'esgueiram
P'ra escutarem a cantoria dos meninos.
Duas tiranas desfolhadas sem cor...
Desabrochando nos eitos da flor,
Alumiando os pastos da dor...
E, a bela lua, cintilava dizeres...
P'ra alegria dos meninos...
Na serenata que corria...
Ao fazer latumia na beira dos brejos...
E, o sol, não mais, estrigava amarelo,
E, a lua, lá do alto, foge primeiro...
P’ra não presenciar tanto palor...
Da virginal inocência a que cedo secou,
Pros lados da Lagoa Torta, que serenou...
Ouço o canto das passaradas nas estiadas
Ao repousar dos sonhos sonhados,
Das duas moças que não fulorô...
Querência da presença que não vingou...
Pros lados da sentença que amaldiçoou,
Na voz do vento que silenciou...
Tanta dor... tanta secura... e amargura...
Visitada... ao retirar... da feira... dos guardados,
Com fé e devoção nos pés da Virgem Santa....
Que tanto alumiou as rezas nas novenas
Das Ave Marias!...
Ao meio dia, ou às seis horas, na vigília...
Rezando o credo e o rosário à Mãe dos Dias...
Foram se tudo indo na ribanceira da agonia
Ficaram loucas e tísicas sem alegria;
Gementes carnes na secura dum coração!...
Pros lados e bandas dos cerrados...
Do chão rachado que enterrou,
Numa pá de terra avermelhada,
Barro duro e socado que recolheu...
Duas tiranas princesas sem castelo!...
Que vivente viviam as coisas delas,
Feito velas branquicelas sem querelas...
Foram enterradas bem juntinhas...
Abraçadinhas e perfumosas,
C'as flores das laranjeiras,
Nos cabelos de fogo fugido...
Agora, podes ouvir ao longe...
O calundu triste 'estridente
Das arapongas nos cerrados...
Num lamento... cacorê... enfurecido...
Por saudade e fartá das meninas,
Das secas medonhas,
Pobrinhas, Pobrinhas,
Oh! Vida Tirana...
Das Maria Marias!...