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Gosto bom de infância!...
O dia parecia vagaroso... E a luz se refletia timidamente... Por entre as nuvens; tudo naquela manhã transcorria... Silenciosamente como um riozinho transparente e sozinho... Em busca de um remanso. E eu daqui, debruçado no alpendre da varanda azul, doce e sensível da minha infância! Hoje era um dia diferente dos outros, pois, podia sentir um aroma bom que exalava da cozinha; ah, que cheirinho bom de coisa doce no fogão; era o dia de fazer sorvete de coco e doce de leite!... Nossa! Como era deliciosamente... Esperado! Chegar ao final da tarde... Onde todos se reuniam próximos às grandes e largas redes que ficavam repousadas nas varandas. Mas, eu tinha que esperar! Ainda era muito cedo... E tinha que esperar dar o ponto. Por vezes, chegava de mansinho... E metia uma colher de pau no doce - sem que ninguém me visse! Ah, se vissem... Estaria perdido! Mas, à vontade, o desejo, eram maiores do que propriamente esperar... Àquele doce era mais doce que algodão doce... Minha boca ficava aguada só de pensar! Aquele instante... Era tudo de bom! E eu, ora, naquele momento era a criança mais feliz do mundo! Estava com um gosto bom de infância!... Pouco depois, corria e me escondia por detrás da porta; ficava à espreita esperando o momento certo para atacar a geladeira! E, com ansiedade e curiosidade corria em direção à geladeira Cônsul, toda branquinha, de duas partes... Mais parecia um edifício alto da cidade! Abria-a rapidamente na tentativa de encontrar... Àquela delícia... Dos deuses (li uma vez que, sorvete, era o néctar - o manjar dos deuses!). Porém, o sorvete, nossa! Ficava bem na parte posterior da geladeira, bem no alto! De difícil acesso... Não tinha mais o que fazer; como pegá-lo?! Minhas mãos trêmulas - tão pequeninas... E minhas pernas - tão franzinas... Mal podiam alcançar a alça da porta da geladeira; não conformada... Começava a pensar num jeito - então, pegava um banquinho de madeira (tamborete) bem firme, de madeira de lei (como se dizia o meu avô - daqueles móveis bem pesados e antigos, que, durava toda uma eternidade). Bem, não sei bem por que se usava essa expressão– madeira de lei – nada mais importava – o que queria mesmo era provar de qualquer jeito aquela deliciosa iguaria! Então, subia no banquinho - na ânsia de ficar mais perto da tigela de sorvete. Ele, o sorvete... Estava todo branquinho em neve... E suavemente macio; metia o dedo indicador de vez na tigela de porcelana; o gelado me incomodava, porém, o desejo, era bem maior e escorria pela boca! E eu começava a salivar antes mesmo de tocá-lo. Ah, que sensação de perigo e êxtase (provar o fruto proibido)!... De repente... Começava a ouvir passos leves chegando... (de chinelo de arrasto) na cozinha: Era D. Zazá chegando para ver o ponto do Doce de Leite. Aí, escondia-me por detrás da porta e, ficava a observar... Cada gesto e passos – dela. Aquele cheirinho inebriante me conquistava! E, o grande caldeirão borbulhava... Sobre as chamas do fogão à lenha, e D. Zazá, sorria de felicidade! Era bonito de se ver... A alegria que brotava naturalmente do seu olhar... E o seu sorriso... Ah! Iluminava toda a casa que silenciosa também esperava, afinal, estavam todos em sesta (costume dos meus avós e bisavós), que passou de geração a geração. Assim, eu ficava maravilhada diante daquela cena tão preciosa e quente em minha memória! Saía de fininho e me deitava numa rede colorida, só minha, que ficava dependurada na varanda de frente para uma grande planície, ensolarada! Adorava ficar deitada bem quietinha... Só para ver o sol - sumindo no horizonte... Por entre as montanhas! Meu coraçãozinho de menina-flor suspirava e o sol, também me observava como se quisesse me revelar algum segredo! Os pensamentos corriam destemidos... Como um alazão a galopar trotando elegante em busca de sua parceira. E eu ressonava... Bem de levinho... Tinha medo de dormir profundamente e perder o grande final: - Tomar uma taça gigante de sorvete e me empanturrar de doce de leite! O sol já se mantinha bem discreto – que fugia todo envergonhado! Acho que de inveja! Pois, não podia esperar para tomar o sorvete. E distante, quentinho, sozinho e ensombrado, lá do alto, também suspirava!
Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 25/01/2013
Alterado em 16/02/2014
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