Chovia lá fora - embora
ela ainda morra, também, lá fora.
Chovia chuviscos sem tréguas,
na janela dela, feito línguas
deslizantes e molhadas
que, escorriam na vidraça
baça dos descaminhos.
E ela de volta a sua janela
olhava os pingos chuverados
na beira das calçadas,
feito enxurradas encharcadas.
Tudo era só chuviscos e triscos.
boaventura que estua nas ruas...
Em pingueira finas escabrosas,
gotejantes ou grossas,
nas bordas dos telhados
abertos ou fechados,
a inundar tudo.
E ela de volta a sua janela
suspirava - chuvosamente -
E dos seus olhos gotejeiros,
rolavam intrepidamente,
um gostinho de chuvinha,
chuviscarada - escancarada.
E a chuva chuveirando - pulverizadora
não cessa e não passa...
Banha tudo; escava tudo,
lavrando outros caminhos.
E ela de novo na sua janela,
não mais resiste,
e se molha de língua -
chuvenil, chuavidamente,
e os seus cabelos encharcados
na chuvadaria, que, não estia.
Mas, chove chuvendo mais e mais
trovadescamente,
trovoadamente...
E ela se assombra,
por estar tão só; e que não mais havia;
e com muita sorte, talvez, se transformaria
ou amaria os outros pingos da chuva
que, sob chuvência e querência,
sempre ficava a ver navios...
sem porto, sem cais; sem nada,
sempre à deriva...
E ela que era chuva mansa e doce,
fechou-se em oceanos - nadantes...
- Chov'envelhecendo -
sem ao menos saber:
se era bom chover?!